Mortas secundárias

«O fio da vida é tão forte como o tendão de um boi.
Por isso, mesmo depois de te perder, a vida teve de continuar.
Tive de me forçar a comer, a trabalhar, a empurrar cada dia para baixo, como se fosse uma bola de arroz frio,
mesmo que me ficasse entalado na garganta.»
Atos Humanos, Han Kang

muerte-mujer-dreamstime.jpg
Dreamstime

Conseguimos tolerar ler sobre a perda. A perda pode ter uma aura romântica: depois de cada perda, imaginamos o estado de regeneração que se segue, em que novos ganhos se acumulam. A tempestade e a bonança.

Mais raro é querermos demorar-nos nos corpos que vão perdendo a vida na cadência lenta da doença, ou nos corpos que vimos mortos, e com quem, por isso, assinámos um pacto de impossível esquecimento.

Mortas secundárias


Há corpos que rapidamente se viram fantasmas, nomes repetidos em jornais, coletados de quando em vez, em nome da memória.  É o caso de Andrea, María Luisa, e Sarita, as “Raparigas Mortas”, que Selva Almada nunca pôde esquecer. São fantasmas que a acompanham desde a adolescência, desde a primeira vez que escutou ecos das suas histórias. Apesar de todo o espalhafato mediático que, na Argentina, os acompanhou, são nomes que representam três crimes por resolver. Acontece que, das idas décadas de 80 para cá, o ódio às mulheres continuou fácil de tolerar.

Apesar de todo o protagonismo que estas três histórias a seu tempo tiveram, foi demasiado fácil abandonar estes nomes à fantasmagoria, torná-los meros mitos urbanos, que assombram as noites de uma ou outra jovem, a caminho de uma saída noturna ou de um encontro sexual – “vê lá, lembra-te do que a aconteceu a Andrea”, ou a María Luisa, ou a Sarita.

Mortes periféricas

Lá longe, na raia transmontana, percebe-se que caminhamos entre e além fronteiras – a rede de telemóvel, a da televisão, tudo oscila entre o português e o espanhol. Foram terras de partida, mas em “Agora e na Hora da Nossa Morte” são estradas e povoações percorridas, acompanhando uma equipa de cuidados paliativos, no Planalto Mirandês. São histórias dos que regressaram, e dos que por lá quiseram ficar, dos dias que se vão subtraindo, e dos últimos usos dos corpos – os abraços e a teimosia de aguentar um pouco mais; a escuta de gente que, gradualmente, se foi esquecendo de si e das suas dores.

A jornalista Susana Moreira Marques presta testemunho do quanto serve um corpo e do valor daqueles de dele cuidam. “E depois, o amor, grande sobrevivente do desastre”.

Mortos em revolta

Atos Humanos” são atos violentos, é a crueldade, decartável, sacudida de cima de ombros militares, dos microfones de políticos. Registada uma e outra vez pela imprensa estrangeira, que se escandaliza. Atos humanos são uma história que se repete, repete, e continua imutável.

Han Kang regressa à sua cidade natal, Gwangju, na Coreia do Sul, para um ajuste de contas com o massacre de 1980, em que estudantes foram torturados e mortos, em nome da obediência ao Estado. Este confronto faz-se a várias vozes, num acumular de corpos, como o daquele 18 de maio. «Quando morreste, não pude fazer-te um funeral e assim, a minha vida tornou-se um funeral. Quando foste envolto numa lona e levado num camião do lixo. Quando jatos de água reluzentes brotavam imperdoavelmente da fonte.».


Dia 25 de novembro marca o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres. A data foi escolhida em homenagem às irmãs Mirabal, três dominicanas que se opuseram à ditadura de Rafael Leónidas Trujillo. Foram presas e torturadas várias vezes, até que Trujillo decidiu assassiná-las. A 25 de novembro de 1960, enviou vários homens para intercetar as três mulheres, a caminho de uma visita aos seus maridos, que se encontravam presos. Las Mariposas, como ficaram conhecidas, estavam desarmadas. Foram levadas para uma plantação de cana-de-açúcar, sendo aí espancadas e estranguladas.

Todos os anos se acumulam nomes de mulheres assassinadas por companheiros e maridos, os quais nós, feministas, tendemos a repetir em manifestações de repúdio. Até ao ano seguinte. Dia 25 de novembro é dia de dizer, mais uma vez, que não aceitamos tantos corpos acumulados.

A morte é inevitável, mas estas não.

Texto escrito por Sara Leão
A Sara Leão gosta de ler e escrever,
ó terrim, tim, tim e passear na rua.
Partilha o que sentepensa num blog que tem uma citação da Agnés Varda.
Modo de estar na vida: feminismo para viver bem.


Recomendações de l e i t u r a

📚🛒 Podem encomendar os vossos livros através do email 
livrariaconfraria@gmail.com ou directamente na livraria online 
Portes Gratuitos em compras superiores a 15€

Raparigas Mortas de Selva Almada 
PVP Confraria 13.90€ | comprar»»
-10% Sócias de Vida

Raparigas Mortas

Agora e na Hora da Nossa Morte de Susana Moreira Marques
PVP Confraria: 12.90€ | comprar»»
– 10% Sócias de Vida

Ágora e na Hora da Nossa Morte

Atos Humanos de Han Kang
PVP Confraria 15.90€ | comprar»»
-10% Sócias de Vida

Atos Humanos

Mulher não é sinónimo de loucura

À luz de diversas teorias, ser mulher tem sido historicamente considerado patológico. A inconstância, a ausência de pensamento e lógica, a incapacidade de refletir eram consideradas características da psique feminina. A independência, a autonomia e a objectividade eram parâmetros de uma personalidade saudável contudo não eram valorizados da mesma forma em homens e mulheres. A dependência, submissão e o sentimentalismo constituíam atributos de uma mente menos saudável ao mesmo tempo que eram esperados e incentivados nas mulheres, que deveriam possuir uma personalidade terna, sensível e cálida.

Todas aquelas mulheres que não cumpriam com estes requisitos da personalidade-edredão podiam ser calificadas de loucas mas quando apresentavam dita personalidade, mesmo que incentivada, eram tratadas como umas ‘totozinhas‘ fúteis e frágeis. Ou seja, como diz o ditado popular, presas por ter cão e presas por não ter.

O conceito de loucura está intimamente ligado aos comportamentos femininos. As mulheres éramos, e ainda não o deixamos de ser totalmente, consideradas loucas por natureza, por bioquímica. Passamos de “estar” doentes a “ser” doentes.

Doida Não e Não!

Maria Adelaide Coelho da Cunha, como nos mostra a escritora Manuela Gonzaga, foi mantida presa num manicómio por ser mulher, por não cumprir o que se esperava dela como mulher, como esposa, como mãe, ou seja, submissão e renúncia, tal como lemos nas páginas do livro, “Tivesse ela mantido as aparências”.

O sistema nervoso das mulheres era designado de instável, com a mínima mudança nas suas vidas as desequilibrava mental e emocionalmente. Neste sentido podemos falar que houve uma “feminização da loucura”.

Feminização da loucura

No século XIX, de facto, considerava-se que a insanidade mental das mulheres começava nos seus próprio órgãos genitais: no útero localizava-se a loucura.

Uma loucura de teoria, verdade?!??

A eterna doença das mulheres até metade do século XX, quando se evidenciou que era uma doença inventada, foi a histeria (hystera, palavra grega para designar o útero): a histeria foi esse saco sem fundo no qual desde Hipócrates até Freud caíram todos os “problemas” de saúde das mulheres e que os grandes ilustrados não conseguiam (ou não lhes interessava) identificar. A histeria é a visão da mulher como um não-homem e se não é um homem, que interesse tem o que ela sente, o que ela deseja, a quem ama?

Dezenas de sintomas encaixavam num diagnóstico de histeria: cansaço, ventre e pernas inchadas, irritabilidade, egocentrismo, apatia, falta de apetite, menopausa, SPM, felicidade, bom humor…. Já vos comentei que éramos ‘presas por ter cão e presas por não ter’. Se estavas apática porque estavas apática, se rias porque rias… tudo podia ser considerado, caso Eles assim o entendessem, como histeria.

A histeria na época vitoriana tornou-se num diagnóstico comum e de certa forma considerava-se normal que assim fosse, as mulheres não eram homens por isso era natural sofre do mal de humores. Às solteiras era lhes prescrito que casassem e tivessem filhxs e as casadas era-lhes realizadas ablações do útero e ovários completamente desnecessárias. Algumas tiveram um pouco mais de sorte e aplicaram-lhes a terapia da “massagem pélvica”, o que hoje compreendemos como masturbação e assim provocar nas mulheres o que se designava de “paroxismo histérico”, o que vem a ser um orgasmo.

Os vibradores como instrumentos terapêuticos (nunca como brinquedos para o prazer) foram usados em luxuosos balneários e divulgados em revistas femininas como aparelhos anti stress até meados do século XX.

No fim da segunda guerra mundial as mudanças impactaram de tal forma a vida das mulheres e a “loucura feminina” que surgiu uma nova narrativa sobre a saúde das mulheres, desenvolveram-se as “drogas legais”, os psicofármacos.

Atualmente 85% dos psicofármacos receitados nos países ditos desenvolvidos estão destinados a mulheres, estes valores não se podem explicar com base em evidências científicas pelo qual temos que pensar que é uma consequência do exercício da biopolítica heteropatriarcal.

Os estereótipos de género ao longo da história, alimentaram a ideia de que as mulheres sofremos mais loucura do que os homens. Mas os estudos académicos de género, ainda recentes e em desenvolvimento, deitam por terra esta ideia, demonstrando que não existe uma discrepância numérica tão vincada como se imagina entre homens e mulheres no que diz respeito à saúde mental em geral. Há sim, uma maior representação das mulheres nas estatísticas psiquiátricas de certos padecimentos, produto e reflexo das iniquidades e opressão que as mulheres experimentamos socialmente. As desordens mentais “tipicamente femininas” são provocadas pelos efeitos da violência e da pobreza que as mulhesazazres enfrentamos quotidianamente.

Durante o século XIX pensava-se que as mulheres tinham uma maior predisposição para certas desordens mentais, eram hospitalizadas com maior frequência e faziam um maior uso ambulatório assim como lhes eram receitados mais psicofármacos do que aos homens e devo partilhar que este cenário mudou muito pouco. Na actualidade, várias investigadores apontam 3 factores de risco aos que se enfrentam as mulheres e que incrementam a sua probabilidade de sofrer desordens na sua saúde mental e emocional: a vulnerabilidade na qual nos coloca a misoginia, os agentes de perda (divórcio, doença ou discapacidade crónica…) e fatores como a depressão provocados pela violência e humilhação sobre as mulheres provocando também baixa autoestima.

“Presa num manicómio por um crime de amor.

Feito este breve e superficial passeio pela vida e a história das mulheres a frase afirmativa da capa do livro se transforma numa questão. Num ponto de ?”.

Numa sociedade machista e classista, que considerava a mulher como um ser secundário e débil que dependia de um homem para ser governada, o adultério sempre foi tolerado, e de certa forma socialmente aceite, contudo mais tolerado nos homens do que nas mulheres e mantendo sempre as aparências, como podemos ler na página 200 do livro de Manuela Gonzaga, onde vemos como Maria Adelaide Coelho da Cunha é socialmente julgada não tanto pelo adultério mas por fazer público o seu desvario abandonando o marido e “fugindo” com o amante. 

Loucura Lúcida

Erro de diagnóstico?

Não. O diagnóstico de Maria Adelaide foi um salva-conduto para manter as aparências. Para honrar a virilidade do esposo. Na página 203 podemos ler “o mais agravado nestas circunstâncias, é o marido de vossa excelência, disse o médico.”

Doida Não e Não! de Manuela Gonzaga narra-nos a história de uma mulher, de Maria Adelaide Coelho da Cunha e coloca sobre a mesa a forma como a saúde mental e a vida afectiva das mulheres  foi vista, avaliada e instrumentalizada. 

 

texto escrito por:

 

O Feminismo (não) está na moda

O Feminismo não está na moda, nunca esteve e se um dia chegar a estar (espero que sim) é porque alcançou o seu objectivo final que tão bem sintetizou Angela Davis (os parêntesis da frase são meus).

O(s) feminismo(s) é a ideia radical que sustenta que as mulheres (e todos os seres humanos) somos pessoas.

Estar na moda acontecerá nesse momento em que os feminismos só sejam necessários para dançar!

Tenho pensado muito sobre repetirmos que “O Feminismo está na moda” e acho que esta frase afirmativa foi lançada ao mundo pelos esbirros do sistema patriarcal/capitalista para nos confundir. Há meia dúzia de anos atrás, os mesmo que dizem que o ‘Feminismo está na moda’, diziam que o Feminismo tinha morrido. E agora está na moda?!! Confuso?!!

Pensemos juntas, começam aparecer artigos em jornais e revistas que colocam em destaque (na moda) a palavra Feminismo:

“O feminismo é para toda a gente”
“A Marcha das Mulheres quer transformar a política”
“O feminismo está na moda”
Porque precisamos das feministas?
“Feminismo é a palavra do ano 2017
“Margrethe Vestager: “A etiqueta do feminismo é uma coisa que homens e mulheres podem usar”
“Um homem pode ser feminista?”

Mas estes artigos de jornais e revistas contribuem realmente para explicar que o feminismo é um movimento filosófico e político, com três séculos de história e que não terminou com o direito ao voto? Que o direito ao voto foi apenas o ‘princípio’? Que o sufragismo apenas colocou sobre a mesa os direitos das mulheres e que nesse momento o feminismo se transformou em Feminismos? Que o feminismo não é o contrário de machismo? …

Não podem nos dar por desaparecidas e depois dizer que estamos na moda. Não faz sentido! É contraditório para além de falso. Mas já sabemos que a relação entre capitalismo e patriarcado, não é uma relação/sistema coerente mas sim contraditória e estar atentxs a essas contradições faz parte da nossa luta política.

Nesta questão, a contradição está mais do que clara, só se as feministas formos como Jesus Cristo e ressuscitarmos para agora estar na moda!!! Não me parece!! Os Feminismos nunca desapareceram, pelo contrário, moveram-se, removeram-se e transformaram o mundo e com ele a todos e a todas os seus habitantes, feministas ou não. Além disso, os Feminismos não podem estar na moda porque funcionam como mecanismos de alerta da consciência individual e o fazer coletivo, como o pacifismo, a sustentabilidade ambiental, a erradicação da fome, o analfabetismo ou a pobreza.

Que nos últimos anos ouvimos falar mais de Feminismos nos meios de comunicação, na política, na mesa do café da esquina até chamamos ao século XXI, o “século das mulheres” e tivemos em 2018 a Primeira Greve Feminista Internacional com uma presença de mulheres nas ruas que a transformou num momento histórico dos Feminismos e da História, o que não significa que os Feminismo estejam na moda e sim que as mulheres estamos FARTAS, fartas da discriminação, fartas da violência, fartas que não se nos considere pessoas.

A discriminação das mulheres nas suas oportunidades vitais varia de uma país para o outro mas é uma constante e cada vez mais somos conscientes disso, cada vez mais somos interpeladas pelas palavras de Audre Lorde, “Eu não serei livre enquanto houver mulheres que não o são, mesmo que as suas algemas sejam muito diferentes das minhas”  e as palavras nos levam a ocupar as ruas, a organizar-nos, a autodefender-nos…

Agora que nos levantamos já não há volta atrás, Emily Dickinson já nos tinha avisado que “Ignoramos a nossa verdadeira estatura até que nos pomos de pé.”

Estamos de pé e repito, não estamos na moda, estamos FARTAS!

Agora que estamos de pé, que temos consciência da nossa estatura e da nossa estatura JUNTAS podemos perceber o que há por trás da frase “O feminismo está na moda”. Parece-me que é mais uma estratégia do medo  que o patriarcado/capitalismo tem das mulheres sem medo (como diria Eduardo Galeano). Tentado com esta frase vender-nos a ideia de que a igualdade é mais igual do que nunca e que a nossa luta já está recompensada. Já votamos, já estudamos, já trabalhamos, já temos contraceptivos… Já alcançamos a liberdade!

Sim caros esbirros do patriarcado, as feministas logramos que as mulheres possam estudar/educar-se, votar, ganhar o seu próprio dinheiro, decidir se querem colocar criaturas neste mundo ou não e quando… Sim, conseguimos muito mas ainda não é o suficiente. E não é suficiente porque ainda hoje não existe um único lugar onde nenhuma mulher, pelo simples facto de sê-lo, não esteja neste exacto momento, em que escrevo e que tu lês, a ser vendida, escravizada, escondida, privada de direitos…

Por este motivo como feministas, como mulheres e como seres humanos, e sendo conscientes da realidade que descrimina pelo género, pela classe e pela raça devemos questionar-nos que tipo de feminismo necessitamos para avançar em direcção a uma sociedade mais justa e livre. Será um que está na moda?
Como disse Nancy Fraser, a questão é se queremos um feminismo neoliberal  com base numa ideia de liberdade, igualdade e independência de corte meritocrático e individualista ou se pelo contrário, escolhemos um/uns feminismo(s) que proponham uma idea de liberdade com base na democracia radical que aposta pela paridade absoluta na participação em todas as esferas da vida social. Aqui está a questão que encerra a frase “O Feminismo está na moda”.

Está na moda dizer que o feminismo está na moda.

Já fomos consideradas perigosas (as sufragistas), mesmo sabendo que as únicas armas dos Feminismos, são o argumento, a acção política e a sororidade, depois fomos consideradas imorais (anos 60/70), depois desaparecidas (anos 90) e agora  a moda é dizer que estámos na moda!!!

Nem perigosas, nem imorais, nem desaparecidas, nem na moda, FARTAS!
E estamos aqui para mudar o mundo como disse Emmeline Parnkhurst

Não estamos aqui por sermos infratoras da lei; estamos aqui por um  esforço para nos tornarmos as feitoras da lei.
                                                                                         Emmeline Parnkhurst

Esta evolução sem lógica que o patriarcado/capitalismo desenha dos Feminismos e das feministas explica o porquê de durante décadas a bagagem argumentativa e a acção política e social dos feminismos ter sido confiscada e distorcida em cada uma das possibilidades históricas de adquirir salvaguardas na expansão dos direitos das mulheres.

Nada evitou que em cada transformação que provocou e provoca a (R)evolução Feminista não tenha sido marcada com a etiqueta que mais convém em cada momento histórico: o feminismo é perigoso, o feminismo é imoral, o feminismo desapareceu… o feminismo está na moda. Para mim dizer que o feminismo está na moda, principalmente pelos meios de comunicação e pelas vozes da política é mais uma das muitas atitudes condescendentes que se tem com o movimento feminista e com as mulheres, “é uma moda, já passa” e assim mais uma vez tentam transformar os feminismos como não-prioritários, minoritários e até desnecessários.

Nada de novo portanto, se não fosse que chegamos a um ponto sem retorno, depois das recentes ações internacionais feministas conhecemos a nossa estatura colectiva e isso dá muito medo! Continuam a usar o mesmo argumento, o mesmo argumento usado após as revoluções socialistas, anarquistas, comunista, onde a nova ordem social considerava, após o horror dos fascismos, que o feminismo teria a resposta dos sistemas democráticos e alcançaria, pela lógica da justiça social e o respeito dos direitos humanos, os seus propósitos. Por isso já não era necessário ser feminista bastava-nos com ser democratas/humanistas. Agora acontece o mesmo, a mesma mensagem lançada: “Mulheres e pessoas em geral, não vale a pena se alistarem ao feminismo, o feminismo está na moda mas a moda já passa e bastará com serem democratas/humanistas”.

O feminismo está na moda mas não é uma moda.

Vamos mostrar-lhes que estão errados, é verdade que os feminismos podem estar na moda, no sentido da explosão mediática, que tem o seu lado positivo, é bom que mais pessoas falem de feminismos e que circule mais informação é como um banho de imersão mas depois do banho temos que lutar contra a banalização e não ficar só a partilhar e comentar no facebook. Há muitas formas de nos juntarmos à (R)evolução Feminista, cada uma de nós tem o seu papel.

Mas esta vez não vai ser fácil o patriarcado/capitalismo marcar golo… lembram-se do motivo primordial pelo qual nos estamos a auto-organizar e a invadir as ruas? Estamos FARTAS!

Reclamaria todas as medidas que considero necessárias para modificar a situação deprimente em que se encontra a mulher, (…) [entre elas] conseguir a igualdade de salários, quando a mulher produza tanto como o homem.

 

Carolina Beatriz Ângelo,
a primeira mulher a votar na Península Ibérica em 1911.


Biblioteca de imprescindíveis
para estar na moda

 

  1. Racismo no País dos Brancos Costumes de Joana Gorjão Henriques | pvp 15.90€

HISTÓRIAS REAIS DO PORTUGAL RACISTA QUE AINDA VIVE NO MITO DO NÃO-RACISMO

Um homem quer alugar uma casa, mas assim que diz o seu nome africano deixa de receber respostas. Uma avó da Cova da Moura é atirada ao chão por um polícia quando pergunta pelo neto. Uma mulher negra com formação superior vai ao hospital e perguntam-lhe se sabe ler as placas informativas. Por causa da cor da pele. Tudo isto acontece em Portugal, a portugueses negros, e é contado na primeira pessoa no livro No País dos Brancos Costumes, que dá continuidade à investigação de Racismo em Português. Assim se completa o retrato de um país que em 1982 deixou de atribuir a nacionalidade portuguesa aos filhos de imigrantes nascidos em Portugal, e onde ainda há quem encontre listas de escravos (com os respectivos preços) nos baús dos avós, entre outros brandos – brancos – costumes.

2. Contributo para a História do Feminismo de Marx, Engels, Lénine e Kollontai | PVP 15€

Contributo para a História do Feminismo é a recolha de textos mais significativos e emblemáticos de Marx, Engles, Lénine e Kollontai sobre a importância da mulher na sociedade. Onde a abolição da família é teorizada e é feita a demonstração de como a família, no entender dos marxistas, está no centro da exploração da mulher. O feminismo, e particularmente o movimento das sufragistas, tem um especial incremento com a revolução industrial, contemporânea de Marx, e este movimento social e industrial é a raiz da revolução de Outubro na Rússia.

Esta publicação assinala os 200 anos do nascimento de Karl Marx, assim como a importância dos vários movimentos feministas que se tem vindo a destacar a uma escala global.

3. Medusa no Palácio da Justiça ou Uma História da Violação Sexual
de Isabel Ventura | PVP 23.90

Violação, estupro, atentado ao pudor, assédio: a primeira grande investigação sobre violência sexual em Portugal.

Houve tempos em que uma violação podia ser perdoada se o agressor casasse com a vítima, para reparar o mal feito à família (e não à mulher). Durante décadas, a lei (e a medicina) defendia que uma violação não se podia consumar se a mulher não quisesse. Até depois dos anos 1980, só se considerava violação quando havia cópula completa, ou seja, penetração vaginal com ejaculação — preferencialmente, com marcas claras de violência, para provar que a mulher resistiu até ao fim.

E há, até aos dias de hoje, acórdãos de tribunal a julgar o comportamento das vítimas e a encontrar atenuantes para o crime quando uma mulher é «experiente», adúlteraprovocadora. Analisando todas as teorias — das feministas às científicas —, séculos de leis e centenas de casos em tribunal, Isabel Ventura faz um retrato inédito da violência sexual em Portugal.

Medusa no Palácio da Justiça ou Uma História da Violação Sexual descreve preconceitos de género que fazem com que este crime ainda seja considerado menos grave do que alguns furtos, e mostra o quanto a letra da lei — mesmo quando evolui — continua sujeita a interpretações toldadas por um pensamento falocêntrico e conservador, compreensivo para com o agressor e desconfiado para com a vítima.

Who Cooked Adam Smith's Dinner?
Autora: Katrine Marçal.
Categoria(s): Economía, Feminismo.
PVP Confraria: 11€
encomendar: livrariaconfraria@gmail.com
Portes Gratuitos em encomendas superiores a 15€ para portugal continental e ilhas

Dizem que o senhor Adam Smith, é o pai da economia moderna, escreveu que não era pela benevolência do talhante ou do padeiro que podíamos jantar cada noite (os que têm o que comer) mas sim porque se preocupavam pelo seu próprio bem-estar; assim, o lucro fazia girar o mundo e nasceu o Homo economicus. Cínico e egoísta, o Homo economicus tem dominado a nossa concepção do mundo desde então e a sua influência estende-se desde o mercado até à forma como compramos, trabalhamos e flertamos. Contudo, o senhor Adam Smith jantava todas as noites graças a que a mãe lhe preparava a janta, e não o fazia por egoísmo mas sim por ‘amor’.

Hoje, a economia centra-se no próprio interesse e exclui qualquer outra motivação. Ignora o trabalho não pago de criar, cuidar, limpar e cozinhar. Insiste em que se pagamos menos as mulheres é porque o seu trabalho vale menos, porque seria então?!!? A economia tem nos contado uma história sobre o funcionamento do mundo e nós (sociedade) temos acreditado nela.

Mas chegou o momento de mudar essa história!!!! Estás preparada/o?!?!?

 encomendar livros: livrariaconfraria@gmail.com

Portes Gratuitos em encomendas superiores a 15€ para portugal continental e ilhas.