O quarto próprio 2015

«tu sozinha não vais mudar o mundo»

[texto escrito dia 3 de Novembro 2015]

Fui educada para sonhar pouco e ser prática. Ensinaram-me que há coisas inevitáveis com as quais não me devo preocupar muito porque não depende de nós a mudança. Sempre que questionava algo do meu entorno, ouvia de volta a frase “tu sozinha não vais mudar o mundo”.

Sempre experienciei um tipo de frustração derivada da inevitabilidade das coisas: o governo de cada momento, as alterações climáticas,  o sofrimento alheio (humano ou animal), a corrupção,  os desastres ecológicos,  a exploração infanto-juvenil,  os baixos salários de horas infinitas ou as diferenças de oportunidades e remuneração entre homens e mulheres.

Não tenho qualquer aspiração nem talento para me transformar na Hepátia da Alexandria (a filósofa e matemática mais importante da antiguidade), nem na Marie Curie (a única mulher que recebeu dois prémios Nobel pelos seus descobrimentos no campo da radioactividade), nem na Emma Noether (a matemática mais importante do séc XX, com contributos imprescindíveis para compreender a álgebra e a física modernas) e certamente não terei a coragem da Rosa Parks (uma das primeiras pessoas negras que se negou a ceder o lugar a uma pessoa branca nos Estados Unidos da segregação) mas aspiro a ter a inteligência suficiente para reconhecer que o percurso da humanidade foi desenhado por uma mão cheia de pessoas que foram apontadas, no mínimo,  como naïfs e/ou desviadas no seu momento. Todas estas mulheres são um exemplo de que as contribuições e rebeldia individual, podem sim, promover mudanças fundamentais na história.

Alix Dobkin in 1975. Credit Liza Cowan.

Em 1972 abriu as suas portas a primeira livraria de mulheres, a Labyris Books. Foi na Califórnia no centro de Los Angeles. Hoje pode não parecer um grande feito mas naquela década as coisas não eram tão simples.  Dois anos depois da abertura, uma das sócias, a fotógrafa Liza Cowan, decidiu fazer uma campanha de marketing particular. Estampou em t-shirts o lema “Future is female” (o futuro é feminino) e oferece-as a algumas das clientes mais proeminentes. Este slogan tem durado ao longo das décadas e está a emergir como uma afirmação de emancipação para todas nós, enquanto os direitos e os corpos das mulheres continuarem a ser atacados.

«tu sozinha não vais mudar o mundo», nem quero. O mundo muda com solidariedade e sororidade.

Em 2015, no Porto, abre as suas portas a primeira livraria de mulheres de Portugal graças a uma campanha de crowdfunding . O lema da t-shirt que Liza Cowan criou continua a existir e resistir nos nossos corações e por isso continuamos a construir o futuro juntas: juntas fazemos acontecer.

Fadas madrinhas, bruxas, rainhas, mecenas, apoiantes e demais estrelas que #fizeramacontecer . Muito obrigada por acreditarem nesta aventura ♥

Um abraço,
Aida, a livreira

Jorge Paz; Sérgio Pereira; Ivone Ricardo; Carla Machado; Sara Ruas; Maria Prazeres Rovisco; Fabiola Augusta; Ricardo Silva (Rsstudio); Maria Fernandes Jesus; Emanuel Madalena; Eli Ríos; Sofia Ramos (Restaurante Terra Viva); Ana Maria Parada da Costa; Diana Fontão; Cândida da Luz; Pedro Rui Teixeira; Filipa Campos; Almerida Bento; Rita Vlinder; Margaret Santos; Teolinda Gersão; Isabel Varandas; Isabel Soares; Raquel Miragaia; Joana Oliveira; Inês Jorge; Emília Pedrosa Brinca; Patrícia Pedrosa; Cláudia Oliveira da Silva; Artemisa Coimbra; Lai (Adelaide Fontes); Fátima Barata; Natália Santos; Helena Topa; Vanda Miranda; Sérgio Pereira; Rosário Ribeiro; Heartixt; Catarina Duarte; Carlota Rocha e Cunha; LARGO Café Estúdio (onde aconteceu a 3ª apresentação do projecto); Mafalda Aguiar; Sofia Cruz; Marcia de Brito; Libraría de Mulleres Lila de Lilith (onde aconteceu a 2ª apresentação do projecto); Yolanda Suárez; Marta Carvalho (criadora do branding da livraria); Black Mamba – Burgers & Records (onde aconteceu a 1ª apresentação do projecto); Ana Rita Albuquerque; Maria Suárez; Luís Sousa; Juliana Gutierrez; Nuno Fangueiro.