Apontamento para pensar
É evidente que cada país vive encerrado no seu próprio mundo. Apesar de chegarem a Portugal anualmente diversas traduções, são habitualmente dos mesmo lugares: de Inglaterra e EUA na sua maioria, seguidas da França, Alemanha, Itália, Espanha, um bocadinho do norte da Europa. O resto do planeta, com excepção do que estiver consagrado pelo cânon literário, não chega. Permanecendo desconhecido para a maioria das leitoras e leitores portugueses. É o que acontece com a literatura árabe. Sabemos que teve a sua idade de ouro há uns séculos atrás, intuímos que na actualidade continuam haver escritoras e escritores que publicam coisas interessantes mas que não chegam traduzidas a terras lusas.
Vamos até ao Egipto…
Que escritores e escritoras conheces?
Talvez o nome de Naguib Mahfuz não seja completamente estranho, foi Nobel da Literatura em 1988. Mas se menciono os nomes de Nawal El-Saadawi ou Ghada Samman ou Fatima Naut tudo fica mais difuso, certo!?!?!
Se o nome dos escritores Naguib Mahfuz, Naguib Mahfuz ou Ibrahim Aslan não surge facilmente no nosso mapa literário pessoal, nem quero imaginar o que acontece com o das escritoras citadas. Na actualidade existe um desconhecimento, não só a nível académico mas geral das escritoras egípcias, assim como das árabes, pois a maioria das vezes não são citadas nem divulgadas quando se fala de Literatura Árabe.
Espero que este breve apontamento para pensar seja apenas a ponta do iceberg para começar a descobrir a Literatura Árabe Contemporânea (e clássica também) e as escritoras egipcias. Feita esta partilhareflexão salto directamente para a minha leitura, Woman at Point Zero de Nawal El-Saadawi.
Se clicares nas palavras que encontras a vermelho ou nas imagens encontrarás curiosidades, textos relacionados, novas ou revistadas leituras 📚🦊
Woman at Point Zero de Nawal El-Saadawi
Woman At Point Zero, é a história de Firdaus uma mulher condenada à morte no Egipto pelo assassinato do seu proxeneta. Ela sabe que vai morrer porque supõe um perigo para os que mandam, pois deixou em evidência toda uma rede de mentiras e sujidade. Para preservar o patriarcado e as suas mentiras Firdaus tem de desaparecer.
Desde criança se viu submetida aos mandatos dos homens e vemos no avançar da história como a sua raiva se vai acumulando. Primeiro o pai, um pequeno ditador, depois o tio que a condena a um casamento com um homem nojento que a maltrata. Ela foge e em cada fuga outros homens a vão encurralando para se aproveitar dela.
Num determinado momento da sua vida escolhe a prostituição para sentir que pelo menos por uma vez é ela que decide algo na sua vida. Mas nem nesse momento, ela consegue manter a sua “liberdade” pois os proxenetas rondam e ninguém consegue dizer ‘não’, a um homem que com ameaças e força te obriga a trabalhar para ele. Firdaus não é uma assassina, é uma mulher que se revela, que se nega a subjugar-se uma e outra vez, que se nega a ser menosprezada e torturada reiteradamente.
Neste romance de Nawal El-Saadawi, encontramos uma prosa calma, em ocasiões hipnótica com esses olhos negros que são o fio condutor e que colocam em relação os sentimentos de Firdaus, o que é um alívio entre tanta crueza.
Texto escrito