
O livro “Mulheres Viajantes” de Sónia Serrano, aborda a Obra e a Vida de dezoito mulheres que desafiaram as convenções e se aventuraram pelo Mundo.
Contrariaram estereótipos, fizeram as malas e partiram sozinhas à descoberta do mundo. Do século IV aos nossos dias, estas mulheres viajantes disfarçaram-se com calças e cabelos curtos, comeram gafanhotos, estudaram tribos e marcaram a literatura de viagens.
Sónia Serrano arranca do esquecimento sexista as mulheres viajantes, evocando histórias admiráveis, como a de Alexandra David Néel, que tentou tornar-se na primeira ocidental a entrar em Lhasa, ou a de Freya Starck, que mapeou o nordeste do Irão enquanto buscava os castelos da histórica seita dos assassinos. Um A a Z historicamente contextualizado, apoiado em excertos de textos, que inclui pioneiras como Mencia de Calderón, ou aventureiras como Karen Blixen.
“Mulheres Viajantes” não é apenas uma viagem pela vida de 18 mulheres viajantes é também uma aproximação à literatura de viagem, percebendo as possibilidades de narrativa – ficcionada ou não-, a liberdade e a subjectividade que a narrativa literária comporta.
Uma das coisas que mais gostei em Mulheres Viajantes foi aproximar-me do corpo. O primeiro veículo que usamos para viajar é o corpo, ele vai sempre na mala, e é a mala!! Nele guardamos as experiências vividas antes, durante e depois da viagem.
Com as mulheres viajantes que a Sónia Serrano nos apresenta vemos comos as viagens atravessam o corpo da viajante. Não era raro, em tempos mais recuados, pelo menos até ao início do século XX, a mulher que era autora de livros de viagem querer esconder o seu género. Um dos mais notáveis exemplo será o de Mary Kingsley que pretendia que o seu nome aparecesse apenas como M. H. Kingsley, não revelando assim que era uma mulher que vivia aquelas aventuras.
“Não interessa ao público em geral quem eu sou desde que lhe conte a verdade o melhor que posso”. M. H. Kingsley
Havia um desejo de legitimação, claro, as pessoas tendiam a acreditar mais que tais aventuras só podiam ser vividas por um homem. Fruto da discriminação a que era sujeita a mulher, em certos casos, escondia a sua condição, ou então fazia o oposto e assumia que jamais poderia viajar e escrever como um homem.
Sinto esta aproximação com o corpo como livro de viagens logo na primeira parte do livro, onde Sónia Serrano nos fala dos preparativos de viagem. E começamos a construir na nossa cabeça a forma como as mulheres viajavam antigamente – higiene, saúde, as dificuldades e perigos aos que estão expostas por serem mulheres, etc.
Terminamos de imaginar os preparativos e Sónia Serrano começa a apresentação das suas Mulheres Viajantes, sem obedecera a outro critério que o seu gosto.
O livro é um catálogo de existências, um convívio com as mulheres que desafiaram as convenções e se aventuraram pelo mundo.
A AUTORA
Sónia Serrano é lisboeta com ascendência espanhola. Formada em Direito, também trabalha com literatura (hispano-america e espanhola), como jornalista e, vale destacar, foi co-comissária na exposição no museu Berardo sobre a viajante (jornalista e escritora) AnneMarie Schwarzenbach. Do seu trabalho nesta exposição começa a história deste livro.

Foi um prazer conhecer a Sónia Serrano, e gostaria de lhe agradecer a sua visita e a gentileza de ter conversado connosco. E, mais que isso, por escrever este livro.
Também quero agradecer à Elisabete Monteiro por aceitar o convite para orientar esta conversa e à Maria dos Prazeres Rovisco por tecer pontes. À Sara Leão por fazer o directo para o facebook e ao Nuno Fangueiro pelas fotos catitas. #juntasfazemosacontecer
Agora só me resta agradecer-te a ti por me deixares entrar no teu mundo e despedir-me, dizendo que espero poder reler Mulheres Viajantes na minha próxima viagem pois adorei o livro. E claro, não posso deixar de te recomendar esta leitura e desejar que seja uma óptima “viagem” caso te animes a comprá-lo.