A Vegetariana de Han Kang parte de uma ideia simples: uma mulher torna-se vegetariana depois de ter um sonho. O livro divide-se em três partes narradas por três personagens diferentes absorvidas em narrativas diferentes unidas pela presença de Yeong-hye e pelas consequências do seu sonho.
“Antes de a minha mulher se ter tornado vegetariana, sempre pensei nela como alguém que não tinha rigorosamente nada de especial.”
Sobre quem é A Vegetariana?
Yeong-hye para de comer carne. E cada uma das três partes do livro encaixa de forma a seguir a sua narrativa. Ela é central em cada parte. Ela é o centro de um livro que nunca é inteiramente sobre ela.
Han Kang foca-se nas personagens que parecem ser-lhe secundárias: primeiro seguimos o seu marido, depois o seu cunhado e por último a sua irmã. Cada uma destas personagens vê Yeong-hye de uma forma diferente e sente de forma diferente a forma como ela vive o seu sonho. Cada parte explica-nos como essa personagem vive, como pensa, quais as suas prioridades. A narrativa de Yeong-hye tem impacto neles, mas cada parte absorve-se das suas próprias narrativas. Ela existe ao fundo, não ao centro das suas vidas. Ela existe como secundária no protagonismo que cada um dá à sua vida.
“Tudo lhe agradava na cunhada — as pestanas; a maneira de falar, tão direta que às vezes chegava a parecer rude, e que não tinha o tom ligeiramente nasalado da voz da sua mulher; o modo de vestir; as maças do rosto salientes, com qualquer coisa de andrógino.”
Mas sobre quem é A Vegetariana?
Pode A Vegetariana ser sobre Yeong-hye se entre ela e o leitor há a distancia das perspectivas das personagens que enchem as três partes do livro? A união destas três imagens dela permite-mos chegar até ela? Ela é um todo dividida nestas três partes? Todos vemos coisas que mais ninguém vê. Todos vemos coisas noutras pessoas que mais ninguém vê. Mas ninguém é apenas o que os outros nele vêem. Mas sobre Yeong-hye sabemos apenas o que os outros nela vêem.
É possível entendermos alguém pela opinião que os outros têm? É possível entendermos alguém pela opinião que nós temos deles? É possível alguém entender quem somos se nunca irá sentir ou pensar como nós? A empatia e a comunicação são suficientes para entendermos como é a vida de alguém que vive de uma forma diferente da nossa?
Nós somos sempre um bocadinho mais reais do que as pessoas que existem à nossa volta. Não somos?
“A única coisa que a angustiava era que, à medida que os anos passavam, Yeong-hye ia ficando cada vez mais taciturna. Claro que sempre tivera esse traço de personalidade, mas também se mostrava alegre e sociável quando havia razões para isso.”
É possível um livro ser sobre uma personagem que não lemos pelas próprias palavras; uma protagonista da qual não temos perspectiva?
Por isso, sobre quem é A Vegetariana?
Teve um sonho
Viveu esse sonho rompendo com todos os padrões considerados normais….
Provocou reações assustadoras naqueles que lhe eram próximos.
Sonho/Sentimentos
São poderoso e arrasadores para quem se permite vivê-los ao extremo
Qual é limite das reações que podemos provocar ou deixar que provoquem em nós sem ultrapassar a fronteira do considerado normal….
Qual é o limite?
A lógica, o raciocínio os padrões da sociedade ou simplesmente vivenciar …
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É um livro que nos deixa com tantas questões e que nos permite responder dentro da nossa própria perspectiva. Obrigada pelo comentário. :)
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É daqueles livros que nos deixam a pensar muito depois de o ter lido, mesmo se os pensamentos não forem os mais ordenados ou felizes.
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